terça-feira, 17 de maio de 2011

Despedindo-me de Navadwip

Agora encontro-me aqui, em pleno verão indiano, na cidadezinha de Navadwip. Por 1 mês aqui permaneci e agora me despeço com uma ponta de tristeza. Por 1 mês vivi uma vida de monge, morando, trabalhando e participando das atividades do templo, e tanta coisa aconteceu… tantos momentos a recordar, tantas coisas ainda a entender, acho que muitas coisas dessa experiência serão processadas apenas quando eu for embora e talvez tudo isso apareça em minha memória como um sonho longínquo que vivi no outro lado do mundo. A vida aqui é desafiante pelas suas peculiaridades e alegria e tristeza se alternam em nossa mente, mas não é assim também em qualquer outro lugar? Apesar de absolutamente tudo ser diferente observo o mesmo padrão de comportamento mas percebo também o quanto mudei nessa jornada e fico imaginando se quando voltar pra casa ao olhar em meu antigo espelho enxergarei a mesma pessoa… acho que não.
Outro dia andava pela rua rumo a uma loja que fica um tanto longe daqui. Era mais ou menos meio dia, o calor castigava incansavelmente como sempre, mas eu andava tranquilo. Em certo momento passa por mim uma típica carroça com seu respectivo motorista e um outro senhor sentado em cima de uma pilha de sacos de areia, o senhor acena pra mim e diz para eu subir e pegar uma carona mas minha mente desconfiada rejeita e segue. Outra vez eles me chamam e continuo a negar, até que na terceira vez eles me pedem por favor, como se minha presença fosse uma honra a eles e então indeciso subo na carroça. No caminho, o senhor saca um pano limpo que possuía e coloca em minha cabeça para me proteger do sol e em frente a tamanho gesto de afeto eu me emociono e me sinto um tolo por ser tão falho em enxergar algo tão simples e gentil… quantos traumas, desconfianças e julgamentos carregamos conosco? Após uma breve jornada salto no meu destino e me despeço de meus alegres benfeitores que genuinamente felizes me saúdam com talvez as únicas palavras em inglês que conhecem.
Certa vez também um moço me ofereceu uma banana da penca que acabara de comprar e rejeitei porque não tinha fome e sei o quão caras as frutas são para eles, e ele inconformado me perguntou: "Porque?" - Não tenho fome - "Então você coma depois". Simples assim. E assim é a Índia… as vezes ela te acaricia, as vezes te sacode até as raízes fazendo que seus frutos, tanto os bons quanto os ruins, caiam ao chão.
Que saudades vou ter dessa vida tranquila, dos animais no meio da rua, de odiar a gritaria dos bengalis, de ver as deidades todo dia, das criancinhas gritando quando me vêem "Haribol!!", de reclamar do calor, de banhar-me no Ganges ao fim de tarde… de simplesmente estar aqui, mesmo nos momentos em que não queria estar. Jaya Navadwip Dham, o local em que todas as ofensas são perdoadas.
Amanhã Calcutá, dessa vez um pouquinho mais.

Namaste,
Haribol.


Balsa para Mayapur


Da janela do meu quarto... me dão cada susto!


Futebol na beira do Ganges



Parikrama, sempre divertidos de se ver.


Arati das deidades


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