domingo, 27 de março de 2011

Karla Caves - Lonavla/Maharashtra

Aproveitando o único dia de folga na intensa semana de práticas e estudo que temos aqui, fomos num grande e alegre grupo de alunos rumo à grande atracão de Lonavla: A caverna de Karla (junto também com a caverna de Bhaja, que não visitei). Karla é um santuário de origem budista, entalhado dentro de uma montanha chamada Circa, com origem estimada em I a.c.
Partimos cedo de autorikshaw, é uma viagem bem curta, que leva uns 20 minutos já que quem conhece um rikshaw sabe que aquilo anda a 40 por hora, mas é até divertido.

 Essa é pra mama-ji que queria ver os famosos tuk-tuks.

Chegando na base da montanha, apinhada de lojas de Chikki (o famoso doce da região) e quinquilharias, inicia a subida da montanha que é toda feita num grande caminho de escadas de pedra. A própria subida já é uma atração por si só: Centenas de peregrinos sobem as escadas, arrastando bodes e galinhas a serem abençoadas no templo, crianças, pedintes, barraquinhas de todo tipo, e em meio a caótica confusão sagrada da peregrinação inúmeras bandinhas sobem as escadas misturando seu som ao das músicas engraçadas que tocam nas barracas.




Parada no meio do caminho.




Após uma subida considerável aos joelhos frágeis e às cabeças desprotegidas do imperdoável sol indiano chegamos à majestosa entrada de Karla. O peregrino que lá chega pode andar ao redor da montanha e apreciar a incrível vista das cadeias de montanhas, entrar na caverna principal, ou visitar o pequeno templo que se situa fora. A terceira opção é a favorita dos indianos, e sem dúvida foi abandonada pelo nosso grupo visto a bizarra fila que se apinhava pra entrar no templo. Fizemos um passeio pela trilha da montanha, com direito a muitas fotos de paisagem e também dentro das inúmeras salas que se encontram escavadas na montanha.

Vista da chegada á Karla.

Suresh, eu, Siya, Sookhi, Suji, Emily e Ferdi.

Uma das muitas pequenas salas da montanha.

Recordação.

 Ser ocidental na Índia é muitas vezes divertido, as pessoas tiram foto de você como se fosse uma celebridade. Conheci um simpático indiano que ficou maravilhado com o fato de eu conseguir conversar um pouco com ele em hindi, e me apresentou sua família inteira, incluindo a pequena Aditi de uns 6 anos que fez questão de cumprimentar a todos.
Após o passeio ao redor fomos à atracão principal, a caverna, com seu majestoso portal de entrada. Logo na entrada encontra-se diversas imagens esculpidas na pedra, representando cenas religiosas e antigas.






Dentro encontra-se apenas um único salão, amplo e majestoso com suas colunas entalhadas e ao fundo o grande Pilar do Leão, em que os peregrinos tentam atirar moedas para que caiam na parte superior. O local apesar de não muito grande é realmente deslumbrante, esbanjando história e religiosidade de um povo antigo que se dedicou ao máximo pra construir tal maravilha. Dentro da caverna pode-se sentir o silêncio, e quem sabe um pouquinho da fé que levou essas pessoas a dedicar tudo isso ao seu Senhor.

Namaste
Hare Krsna




Pilar do Leão.


Não tem jeito, praticante de Yoga sempre acha lugar exótico pra fazer pose.




Comida de peregrino, os famosos pepinos apimentados.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Observando

Hoje acordei cedo com uma grande vontade de olhar as coisas ao meu redor com mais atenção. Tantas coisas fascinantes, tantos milagres se descortinam em frente aos nossos olhos todo dia mas não estamos aptos a enxergá-los. Parte valiosa dessa experiência que estou vivendo reside no fato de ter dado um salto para fora da minha habitual realidade, rotina, vivência, para resgatar e fortalecer minhas ferramentas e percepções e então retornar, valorizar e enxergar o divino presente lá.
Faço então uma pequena coletânea das pequenas coisas que vi em apenas uma manhã de observação, esperando ter verdadeiros olhos para enxergar todos os dias:

- O nascer do Sol. Aqui na Índia não há nuvens(de fato hoje é o primeiro dia que as vejo no céu) e devido a uma particular qualidade de luminosidade daqui, o nascer e por do sol são sempre espectaculares. Há tantas formas de enxergar esse fenómeno… Com indiferença, considerando-o natural, habitual e desimportante… Com misticismo, considerando-o o milagre da vida que surge a cada dia… Com fé, considerando o sinal de mais uma oportunidade que se inicia para servir, amar e dedicar… Todas essas possibilidades existem, e mesmo que as vezes boas elas na verdade são frutos de nossa opiniões com relação ao nascer do sol e memórias (boas ou ruins) que ele nos traz. Portanto hoje tentei enxergar o sol, apenas como o sol… sem classificá-lo com base nas minhas opiniões, mas apreciá-lo como É.







- Os pássaros. Aqui existem um infinidade encantadora de pássaros, e ao nascer do dia eles dão seu espectáculo a parte. Mas será que os pássaros deixam de cantar no resto do dia, ou eu simplesmente deixo de ouvi-los? Qual será a diferença então entre o belo canto do canário que traz alegria, e o barulho dos corvos que causa incômodo? A diferença não residirá em mim, nos meus apegos às minhas percepções com relação a um e a outro? Se eu deixar de julgar o canário e o corvo, posso perceber que os dois estão cantando, e portanto os dois são parte do mesmo.




- As pessoas. Enquanto caminho diariamente pelo campus antes do nascer do sol, me deparo com inúmeros indianos que começam seu dia fazendo caminhada, correndo, indo pra escola… Se olhar com clareza posso ver pequenos detalhes encantadores em cada um. O guarda que faz Surya Namaskar em frente à guarita pra se aquecer, o garoto de bicicleta com sua buzina engraçada, o senhor que toca o sino e oferece flores no templo de Hanuman, a senhora que traz pra fora de casa o incenso que ofereceu no pequeno puja, os jovens que correm exercitando seus músculos e preparando para iniciar o dia… São todos diferentes, são todos fascinantes, todos tem algo a me ensinar, tanto aqui como em qualquer outro lugar do mundo.

Flores… variedades de jasmim… o lagarto que se camufla na árvore… a água que corre no riacho… a luz por detrás da montanha… o som da banda que anda pela rua… tanta riqueza… tanto potencial… aqui, e aí onde você vive. Basta Enxergar… e Agradecer.

Namaste
Hare Krsna



domingo, 20 de março de 2011

Holi - O Festival das Cores

Hoje aqui na Índia é Holi, o Festival das Cores. Celebrando a chegada da primavera e diversas histórias antigas como a destruição do demonio Hiranyakashipu pelas mãos do Senhor Nrsimhadeva, avatar de Vishnu e as brincadeiras de Radha e Krishna, tem-se o alegre festival de Holi. Holi é o mais próximo que temos aqui do carnaval, e posso dizer que é tão divertido quanto.
Acordei cedo e logo que saí percebi que algo acontecia no Instituto quando comecei a ouvir um batuque a distancia. Cheguei na entrada do Instituto e um grupo de indianos já se reunia por lá, todos coloridos e esperando pessoas pra atirar a tinta em pó característica da celebração. Cheguei meio acanhado mas os garotos logo me trouxeram pro grupo, felizes em ter um ocidental na festa e loucos pra me encher de tinta. Um a um os garotos vieram, passando tinta e me dando abraços de "Happy Holi".



 Professor Bhalekar recebendo as cores do dia.

A partir daí o grupo seguiu rumo às diversas casas que existem por aqui, batucando muito, jogando tinta e dançando. Ao chegar nas casas éramos recebidos com muita alegria pelas famílias que traziam diversos tipos de doces e salgados para todos comerem, enquanto mais tinta era jogada. Os indianos ficam muito felizes em ter ocidentais com eles, e insistiam pra eu dançar e comer a vontade, o que eu fiz pois as comidas eram maravilhosas. Pouco a pouco outros ocidentais foram chegando, engrossando o grupo que ia de casa em casa colorindo os professores e moradores, com muita música, comida, dança e alegria.


Estou engordando aqui com tanta comida boa.



Batucada sem parar


As gringas eram as mais animadas!


As crianças dão um show a parte.


Hummmmm



Garotos e garotas no puro bollywood style!


Após horas de festival, terminamos o tour na Goshala (casa de vacas) onde os garotos animados saltaram pra dentro do bebedouro das vacas. Foi um dia muito divertido, com muita dança ao puro estilo Bollywood, comidas, cores e alegria. Maravilhosa experiência da pura tradição da Incredible India.




Happy Holi!!


Suji do Kerala e Emily dos EUA.


Sookhi da Inglaterra.


Eko, da China.




Acho que essas manchas não vão sair.



quinta-feira, 17 de março de 2011

Kaivalyadhama Institute - Lonavla

Deixei a grande Mumbai de ônibus, rumo a Lonavla - 100km. Entrei no ônibus que me deixaria em Lonavla, mas cujo destino era a cidade de Pune, morrendo de medo de não me avisarem quando deveria descer. Em certo ponto uma ocidental entrou uma ocidental no ônibus, o que me deu um certo alívio de saber que eu não era o único maluco a enfrentar aquela jornada. Após muita busina e curvas percebi que havíamos chegado em Lonavla. Enxerguei um conjunto de prédios verdes que reconheci por ter visto no site do Instituto, e quase desci na estrada mas felizmente a ocidental se manifestou: Seu nome era Roxanne e ela estava indo fazer o mesmo curso que eu (sendo que já havia estado lá antes).

Passeando em Lonavla. É uma cidade pequena mas com bastante comércio e muitos hotéis de luxo, sendo uma estância para muitas pessoas de Mumbai e Pune.


 Chegamos juntos ao Instituto e qual não foi a minha agradável surpresa: O lugar é enorme, bonito e muito bem equipado. No sopé de uma montanha, dentro da bonitinha cidade de Lonavla fica o tradicional Kaivalyadhama Institute. O local possui diversos departamentos, uma universidade de Yoga, centros de tratamento ayurvédicos, centro de pesquisas científicas, e até mesmo um hospital que oferece tratamentos com técnicas do Yoga. A pessoa passa pelo médico e faz uma avaliação física de qual é o problema que possui, e este por sua vez prescreve quais técnicas a pessoa deve fazer com o acompanhamento dos outros setores do campus.





O curso é muito interessante. De fato retornei à faculdade. Estou tendo diversas aulas teóricas como Análise Cientifica do Yoga, Interpretação dos Textos do Yoga e Estudo do Pensamento Indiano. Duas vezes ao dia aulas práticas (ásanas) e diversas matérias completam um dia bem cheio, sendo que apenas o domingo é descanso.


Cerimônia de abertura com Swamiji Maheshananda e os professores do curso.


Parte da turma com o tradicional uniforme para aulas teóricas. Essas roupas são muito confortáveis e apropriadas pro calor impressionante que já está fazendo.


Agora que o ambiente está descrito, começarei a postar minhas impressões e insights dentro dessa experiência.

NO YOGA NO PEACE
KNOW YOGA KNOW PEACE.

Namastê
Hare Krsna.

domingo, 13 de março de 2011

Mumbai

Cercada pelo mar se encontra Mumbai, a mais cosmopolita das cidades indianas. Acordei na cidade do Sonho Indiano (tal qual São Paulo, Mumbai recebe imigrantes de diversos estados, na esperança de ganhar uma vida mais digna que em sua terra natal) e fui caminhar por suas ruas empoeiradas, caoticas e fantásticas. Estou hospedado na casa da família Sheth, e a eles tenho muitíssimo a agradecer, pois sem seu suporte não estaria tendo uma adaptação tão tranquila a essa realidade tão distinta que é a Índia. Diz o ditado por aqui que "Guests are God" (hóspedes são Deus) e sou testemunha de que eles tentam cumprí-lo. Estou em Andheri West, um bairro ao norte da cidade, onde praticamente não se vê ocidentais, sou o único caminhando por aqui, e adoro essa situação.
Logo cedo encontrei um templo Jain (jainista) onde um simpático senhor insistiu que eu retirasse o sapato e entrasse para conhecer; o templo é extremamente belo interior e exteriormente, e fiquei impressionado com o quão similar é com os templos vaishnavas que já frequentei. O tempo todo pessoas entram e saem, oferecendo suas orações e girando parafernálias devocionais em frente a um amplo altar com deidades que a mim se assemelham a figuras de lendas budistas, e foi justamente a impressão de uma certa fusão entre budismo/hinduismo que tive do jainismo. Eles são estritamente vegetarianos, e tem como filosofia religiosa não matar nenhum animal mesmo que pareça insignificante. É tocante ver os monges e monjas jain que andam pelas ruam com varrendo o caminho em que passam para não pisarem em nenhum inseto que possa ali estar. Puro ahimsa.

Templo Jain

Em companhia do meu colega indiano Harsh peguei uma balsa rumo ao maior pagoda da Ásia, ou do mundo: Um templo gigantesco em meio a uma ilha de mangue, que na verdade é um enorme salão dedicado a prática de meditação Vipássana.

Visitei o quarteirão da ISKCON (Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna) Mumbai, e fiquei obviamente com a boca aberta de ver tamanha opulência. Um altar gigantesco com 3 deidades situa-se dentro de uma pátio belamente decorado, e em frente a ele um fila de pessoas se forma continuamente esperando receber alguma prasada que o pujari distribui em frente ao altar. É muito tocante ver a fé e carinho que os indianos têm para com Krishna, mesmo a grande maioria não sendo vaishnava.

Sri Radharasabihari/Srila Prabhupada/Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Thakur


Foto do site, pois máquinas não são permitidas





 Após um jantar multicultural ao puro estilo indiano, acordei com a barriga girando de tanta pimenta que comi no restaurante "chinês" em que a comida é mais indiana que qualquer outra coisa. Recuperado após algumas Saudações ao Sol parto rumo aos mais famosos templos de Mumbai: Sri Siddhivinayak (templo do senhor Ganesha) e Mahalakshmi (deusa da fortuna). No mais puro estilo aventureiro peguei irnformações com a família e agarrei um ônibus local. Altamente treme-treme, me diverti com o estilo indiano de viajar: Assim como nos trens, não há porta nos ônibus e quando as pessoas querem descer elas ou puxam a cordinha do sininho ou simplesmente saltam pra fora com o ônibus ainda em meio movimento (nem preciso dizer que a segunda opção é a mais utilizada).
Sempre coloridos e acabados! Ainda bem que eu sei ler devanágari pois os números são hindi.

 Chacoalhando no busão (o tiozinho tava com sono igual eu dentro de ônibus)

Visão da janela do ônibus: Diversão na praia ao fim da tarde.
Na janela: Cruz de igreja cristã, adornada com guirlanda tipicamente hindu, sincretismo ao estilo indiano.

Cheguei a Siddhavinayak após um enorme citytour ao estilo roots, e em 5 minutos fui embora, expulso pelos guardas que não permitem a entrada de máquina fotográfica (nem na mochila...).
 Sri Siddhavinayak, gigantesco.

Desisti de Mahalakshmi pois provavelmente teria o mesmo tratamento, e peguei o busão de volta a Andheri apreciando a pitoresca paisagem das ruas e da vida indiana, em meio ás mansões dos astros de Bollywood e às favelas dos humildes.
Amanhã vou pra Lonavla, e começo meu aguardado curso de Yoga. Sentirei saudades da Incredible Mumbai.