domingo, 24 de abril de 2011

Navadwip Dham

Parti de Lonavla rumo a Pune de trem comum, e a viagem foi até divertida. Pune é uma cidade bastante desinteressante, parece uma Mumbai com menos charme mas tão cara quanto. Após uma única noite na cidade voei pra Calcutá. Calcutá é um choque... primeiro o calor insuportável e úmido que faz lá, segundo a bagunça e sujeira... a impressão é que a cidade é completamente negligenciada, e provavelmente esse é o caso. Passei uma única noite no templo de lá e as 5 da manhã parti na companhia de 2 outros viajantes experientes rumo a Navadwip. A viagem foi pitoresca como se pode imaginar de qualquer viagem de ônibus na Índia - Calor, ônibus velho e lotado, muita buzina e tremedeira, mas pela janela paisagens lindas da Índia rural se descortinam por todos os lados. Horas depois chegamos ao nosso destino final: Navadwip Dham.
Perto das margens do Ganges numa região de ilhas encontra-se a grande sede do Sri Chaitanya Saraswat Math, que ao longe se vê pela bela guesthouse e o templo de 9 domos. Chegamos em meio à celebração da abertura do templo em homenagem a meu mestre falecido a 1 ano, e foi uma celebração linda de se ver e sentir. Sua imagem de mármore foi banhada em meio cântigos e muita emoção... um misto de saudade, alegria e tristeza pela falta que ele faz. Num dos dias mais quentes da minha vida me retirei até que o fim do dia nos presenteou com uma linda tempestade fora de época a lavar o calor e elevar o ânimo.
Os dias aqui são tranquilos, poucos se aventuram a vir pra cá no verão indiano que por enquanto está sendo gentil (ou eu que me acostumei). Tenho meu serviço diário em meio à programação do templo e uma boa oportunidade de tranquilidade e reflexão. Ao redor uma Índia antiga e rural que parece parada no tempo... aqui sim andar na rua de terra é dividir espaço com bodes, bois, gansos e macacos (enormes e espertos).
Um mês me aguarda e enquanto isso tento aqui fortalecer, crescer e seguir.

Namastê,
Hare Krsna.


 

Visão superior do Nat-mandir


Templo de Sadashiva



Govinda kunda


Distribuição de livros e comida.



Tulasi cercada de lótus.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Fechando ciclo

Peço desculpas pelo longo jejum de postagens. As últimas semanas por aqui foram bem intensas de estudo, agora posso respirar aliviado com a sensação de dever cumprido. Muita coisa aconteceu, portanto vou ver se consigo colocar um pouquinho por aqui.
O curso foi bem pesado na parte teórica. Muitas aulas, muito estudo e trabalhos a serem escritos. Essa semana foi a semana de avaliações, começamos com a prova prática onde os professores avaliaram nossa prática e execução de ásanas, pranayamas e técnicas como uddiyana bandha, nauli e kapalabhati.

Avaliação de uddiyana bandha.



 Após uma longa e cansativa manhã cada aluno foi sorteado com um tema para sua apresentação teórica e o meu foi interpretação textual do Hatha Yoga, o que foi muito bom pois pude falar um pouquinho sobre os clássicos tal como Hathapradipika, Gheranda Samhita, e Yoga Sutra, mas trazendo sempre a minha interpretação devocional sobre Bhakti Yoga e porque não vejo conflito entre as duas práticas.
Estivemos também ativamente envolvidos nas técnicas de limpeza descritas no Hatha Yoga. Os chamados shatkriyas (ou shuddhikriyas/shatkarmas) são técnicas fabulosas que visam uma completa limpeza de todo o corpo. Estamos acostumados a escovar o dente e tomar banho, mas internamente muita sujeira e estagnação permanece. Estava bem acostumado com técnicas simples como nauli (massagem da cavidade abdominal/intestinos), jala neti (limpeza das fossas nasais com água) e vaman dhauti (limpeza do estômago com água e vômito induzido) mas fiquei animado feito criança no parque de diversões ao aprender sutra neti (limpeza do nariz com catéter de borracha), vastra dhauti (limpeza do estômago engolindo um longo pedaço de tecido) e finalmente o grandioso shankhaprakshalana que limpa todo o sistema digestivo e intestinos através de um longo processo de ingestão de água e ásanas para direcioná-la. Para nossa mente ocidental esses processos soam muito estranhos e horríveis, pude notar isso através da imensa quantidade de alunos que se negaram a tentar devido aos seus bloqueios mentais, mas posso assegurar que eles são maravilhosos e necessários pra uma correta manutenção no nosso templo corpóreo mas não devem ser praticados sem a instrução de um profissional no início.

 Eu no sutra/rubber neti enquanto Jo vai de Vaman no fundo rsrs.

Tenho me divertido muito por aqui andando de bicicleta. Pela manhã alugo uma na loja e tenho descoberto lugares maravilhosos em minhas aventuras solitárias. Algumas pessoas tem medo de enfrentar o trânsito indiano, mas estive em todos os cantos de Lonavla no meu humilde veículo e foi sempre encantador. Descobri o bonito parque municipal, lojinhas de todos os tipos (saboreando todos os tipos de doces incríveis), o untuoso complexo Sri Narayani Dham com seus impressionantes templos e opulentas deidades, e lindos lagos em meio as montanhas que acessamos por trilhas. Pude até dar um mergulho no grande lago cujas águas limpas dão um enorme alívio ao calor pesado que tem feito por aqui.


As ruazinhas de Lonavla. Tem algo charmoso nessa aparente confusão.

Visão do lago de cima da montanha




E o sol se põe mais uma vez


Um antigo templo de Durga

Entrada de Sri Narayani Dham

Pátio central

Templo

Altar das 3 deidades, Ganesha, Narayani e Sri Balaji



O pátio é cercado de vasos da sagrada Tulasi.


Cada pedacinho que visito e observo tem alguma coisa pra contar, já me sinto nostálgico de deixar esse lugar que agora já parece minha casa e minha rotina. Tanta riqueza e tanto encantamento nas pessoas, nas ruas, nos animais, na natureza e nos exuberantes espectáculos que o sol dá por aqui. Sábado vou pra Pune e domingo embarco rumo a minha nova jornada no estado de West Bengal.

Namaste,
Hare Krishna!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Anatomia do Yoga


Devo justificar meu jejum de postagens, afinal o curso está se aproximando do fim e tenho um carga diária bem pesada de estudos e trabalhos escritos. Aproveito então pra postar um dos artigos que aqui desenvolvi.

O corpo humano é uma máquina complexa e intricada. Hatha Yoga sempre considerou que para atingir a meta do Yoga, o praticante deve conquistar perfeição também em seu corpo físico, portanto temos a descrição de diversas práticas tais como ásanas e shatkriyas. Para o sadhaka (praticante), e especialmente para um professor, que irá lidar não somente com seu corpo mas com o de outras pessoas, o entendimento básico de anatomia e fisiologia é essencial, pelo menos até o ponto em que concerne as técnicas de Yoga.
Patanjali começa sua exposição descrevendo Samadhi em seu primeiro capítulo para que o leitor possa ter claro entendimento sobre a meta de tal prática. Se, em termos do Yoga, o objetivo da prática é Samadhi (deixando de lado, nesse momento, o conceito de Moksha ou as diversas interpretações com relação a Samadhi ou a meta última da vida), então, em termos anatômicos, a meta do Yoga é a mais alta experiência do cérebro, ou a preparação para tal experiência através do fortalecimento do córtex (região que controla o intelecto).
Praticando ásanas pode-se superar barreiras físicas como doenças físicas e mentais, que seriam obstáculos frente a experiências mais sutis como pranayama e meditação. Pranayama, se correto e consistentemente praticado, pode beneficiar o praticante em diversas maneiras como correto fluxo de prana, calma de pensamentos e sistema nervoso, canalização de energia, apenas para mencionar alguns benefícios básicos; mas se praticado sem correta direção ou conhecimento pode levar uma pessoa a desordens psico-fisiológicas , portanto a necessidade de correto estudo sobre as técnicas, não somente suas aplicações para desenvolvimento espiritual mas também para o conhecimento anatômico e fisiológico (o que comprova a importância de tais práticas serem objeto de pesquisas, como já vem sendo feito).
Em minha experiência como professor pude perceber o quanto as pessoas vem sofrendo com problemas gerados por um estilo de vida moderno desregrado. Escoliose, hérnias, constipação, insônia e outras desordens são freqüentes na vida de muitas pessoas e em qualquer aula de Yoga, portanto os professores atuais necessitam de apoio em como lidar com diferentes questões que concernem saúde física e mental, sem se esquecer de apontar que o caminho do Yoga vai muito alem de nossa existência mundana. Um professor competente deve lidar com os princípios reais da prática do Yoga (não apenas apontando mas principalmente inspirando o aluno a descobri-los dentro de si), sem se esquecer a necessidade que a vida moderna impõe sobre cada um, e como sadhaka, deve saber como praticar tais princípios em sua vida para que avance em seu caminho e ao mesmo tempo seja um modelo aos seus alunos.

Namaste,
Hare Krsna